Archive for janeiro \25\+00:00 2008|Monthly archive page

três dias depois…

O lítio já começa a demonstrar seu efeito.

1º dia – Durante o dia não senti nada especial. Foi uma correria no trabalho, alto estresse, e não deu sequer pra perceber alguma modificação considerável. Mas seria muito cedo pra pensar em qualquer coisa.

2º dia – Acordei com uma enxaqueca alucinante.  Não tive condições de ir trabalhar. O pior é que não poderia tomar nenhum remédio, porque poderia interferir na medicação, e até poder falar com a médica, teria que aguardar aquilo passar. O pior é que estavam reformando o apartamento acima do meu, e minha impressão é que estavam com uma britadeira dentro da minha cabeça. Resolvi ir trabalhar meio-dia: ao menos não teria que fazer almoço e teria o silêncio da minha sala. De tarde, a enxaqueca foi passando aos poucos e meu humor inclusive melhorou bastante. No final do dia estava contando piadas, fazendo gracinhas… Mas cedo senti sono. Ponto positivo. Também senti uma fome enorme. Ponto negativo. Tive que comprar comida (sim, arroz, feijão…) porque outra coisa não iria me saciar.

3º dia – Hoje. Pela primeira vez em dias dormi bem. Ainda fiquei com “gostinho de quero mais”, mas após tomar banho, senti-me disposto. Entretanto, também acordei com uma fome acima do normal (na verdade, com a fome normal – antes de começar com o Amato, quando diminui a quantidade de comida). Passei na padaria e comprei meio quilo de broa de milho temperada. Comi mais ou menos metade…

De qualquer forma… sinto-me bem, até então. Quanto à questão da comida, só preciso me controlar e aprender a dizer não pra os impulsos. Resta saber quais serão os efeitos à longo prazo. Minha preocupação maior é com os efeitos cognitivos. Receio ficar lento demais. Receio que com aumento da dose (até agora estou fazendo apenas introdução… cinco dias tomando apenas metade da dose recomendada) eu possa ficar sonolento o dia todo: o que será um problema na volta às aulas.

Mas se vir problemas, eu volto a tomar só meio comprimido (após falar com a médica).

Quanto à vida… estou conseguindo correr atrás das coisas, tentando resolver os problemas… e acho que logo terei passado da pior fase. Ainda assim tenho esperanças que 2008 será um ano melhor. O melhor de minha vida.

carbolitium CR 450mg

Essa é a novidade do meu tratamento. Ontem fui à psiquiatra, e após os quarenta e cinco do primeiro tempo ela me deu um últimato:

“Ou dobramos a dose diária de topiramato de 100mg para 200mg, ou associamos carbolitium CR 450mg: você escolhe”

E eu sem saber exatamente onde estava pisando, mas tendo uma grande noção de ambos lados da moeda: dobrar a dose de topiramato seria dobrar o custo do tratamento, o que seria muito pra mim, enquanto que associar lítio ao tratamento seria ter que conviver com a possibilidade de engordar, reter líquidos, ter que fazer exames de lídoterapia (hemogramas para verificar o nível de lítio no sangue) mensalmente… Quase que trocar seis por meia dúzia.

Mas questionando sobre o lítio, ela me tranquilizou, dizendo que em baixas doses (ela me assegurou que 450mg é uma dose diária baixa… tem gente que toma 1800mg…) difícilmente eu correria o risco de ter efeitos colaterais e que a associação com o topiramato demonstrando bons resultados. Assim, optei pelo carbolitium CR (o CR é porque o comprimido é de liberação prolongada) na idéia de que é melhor cair num tratamento viável $$$, do que ficar impossibilitado de mantê-lo.

O fato que ela me disse que com essa associação meus problemas com sono, ansiedade, desejos de morte e mente inquieta irão estabilizar. Mais um passo em direção à estabilidade.

Felizmente consegui ganhar amostras grátis do medicamento, e hoje comecei o tratamento. Assim que tiver passado uns dias, irei postar algo sobre como me sinto.

Até lá… vou matando um leão por dia. E uma coruja por noite.

gosto de morte…

Já fazem duas noites que sinto gosto de morte na garganta. Aliás… a morte simplesmente invade a minha mente.

Felizmente, mesmo tendo o desejo de morte, minha mente permanece lúcida a ponto de saber que isso não é o ideal, e tampouco fugir não é solução.

Mas, a verdade é que, só duas coisas importam na verdade, quando estou em “crise”:

1) Minha racionalização em obter um jeito indolor, e totalmente eficaz para me suicidar – já que definitivamente minha intenção não é aparecer, ou sofrer, e de maneira alguma quero tentar algo que possa ter a chance de dar errado (e nesse caso eu ter que assumir com as conseqüências – morais, físicas e emocionais da tentativa frustrada). Sim… assumo que sou um covarde, que tenho medo de não conseguir e depois ser julgado pelos outros…

2) Meu medo – gerado pela religião – de que numa tentativa de suicídio eu vá parar no inferno, receba condenação eterna e todas essas nóias cristãs – que insistem em me incomodar.

De qualquer forma, apesar de serem limitações (covardia, medo, nóia religiosa), sinto-me aliviado por tê-las, afinal, talvez se não fossem essas coisas, há muito eu já teria tido forças pra tentar algo insano.

O fato é que há muito que viver já virou um peso maior do que o próprio enfrentamento da morte. E sem querer ser ingrato por tantas coisas boas que existem em minha vida, não tenho tido condições para suportar as pressões e as vezes penso estar à beira da insanidade (apesar de parecer tão lúcido).

E o gosto de morte continua…

auto-medicação e auto-dosagem… e fins de semana

Uma das grandes questões do tratamento de qualquer bipolar é sobre o compromisso do mesmo em manter a medicação sob a estrita prescrição médica. Há quem abuse dos remédios e em tentativas de suicídio, ou em busca de sensações alucinógenas, tome em grandes quantidades. Há quem por questões financeiras ou mesmo por achar que está “bem”, reduz ou até mesmo interrompe o tratamento.  E isso sem contar com quem desenvolve dependência de tarjas-preta (especialmente os ansiolíticos e antidepressivos) e consegue-os no mercado “cinza”.

Eu vivo me policiando para não cair em nenhuma dessas situações. Mas todo final de semana é um desafio pra mim: sempre esqueço-me de tomar a medicação. E as vezes, sinto vontade de beber, e abstenho-me dela para evitar a combinação entre os fármacos e o álcool. E apesar de saber que um ou dois dias não compromete o tratamento de forma séria, isso tem virado uma situação crônica.

É claro que depois que comecei o tratamento farmacológico, eu reduzi consideravelmente minhas compulsões e fugas. Deixei de comer chocolates, deixei de fazer quilos de comida (e comê-la sozinho) no final de semana. Deixei de dormir dias inteiros. Deixei de ficar assistindo filmes e seriados repetidos e nostálgicos. E também deixei de comprar cerveja pra tomar porres em casa.

O único vício que tenho mantido (e de forma exagerada) é internet. Talvez por ser uma forma barata de obter entretenimento (e por estar numa situação financeira apertada). Na net eu leio blogs, participo de comunidades do orkut, bato-papo pelo msn, leio livros, escuto músicas, vejo seriados e filmes…

Enfim… finais de semana ainda tem sido prejudiciais pra mim, apesar d’eu ter melhorado bastante (reduzindo compulsões e estando, em geral, menos deprimido). Preciso policiar-me para tomar os remédios e para não me isolar num mundo virtual.

desbipolarizando… parcialmente.

O nome do blog é um neologismo que junta o prefixo DES com a palavra BIPOLAR e o sulfixo IZAR (uma derivação parassintética). Semanticamente, o sentido da nova palavra é desfazer a polarização. Ou transformar o que é bipolar em apolar (e não unipolar).

Sim… se fosse pra transformar em unipolar, cairia de uma doença de dois pólos: mania e depressão, para uma doença de um único pólo: ou só mania, ou só depressão. Mas a intenção é estar em nenhum dos polos – buscando o equilíbrio.

Assim, este blog é uma tentativa de relatar todo meu percurso em busca de desbipolarizar-me.  Como é sabido, até hoje a ciência não conhece nenhuma cura para o transtorno bipolar do humor. Então, o “desbipolarizar” passa a ser uma atitude contínua em busca de equilíbrio.

E assim vou prosseguindo. Uso o blog para relatar meus sucessos e fracassos, minhas experiências, e também como uma forma terapêutica (alternativa) para equilibrar meu humor: onde despejo minhas angústias, solto minhas iras, libero minhas energias mentais em tempos de mania (e hipomania) por meio da escrita… e assim vou …

Porque este post explicando o nome do Blog, depois de tantos outros posts e de meses de blog?

Simples: passei o final de semana pensando em quanto tempo fiquei sem postar. Achei que talvez o blog logo morresse. Mas depois percebi que os longos períodos sem post refletem meus longos períodos de depressão aguda ou leve (ou meus períodos de impossibilidade de postar, seja por trabalho, monografia…). Então comecei a pensar no significado terapêutico do blog. E percebi que ele vem funcionando.

Então, a boa notícia é que, apesar dos longos períodos sem postar, o blog continuará.

E os resultados do “desbipolarizar” são bons, ainda que parciais. Mas sobre eles comentarei em outro post.

Atualizando

Ontem voltei ao trabalho. Voltei também à coragem…  Estava com uma preguiça danada de fazer qualquer coisa. Fiz absolutamente nada de produtivo nas férias. No ano novo, fui pra casa de uns parentes e passei o ano novo num mundo bem particular… mas foi bom, apesar de tudo.

Achei que as visitas do blog iriam desaparecer. Elas cairam bastante. Mas ainda mantiveram-se num nível que me alegrou (especialmente porque deixei de fazer divulgação em comunidades do orkut). Não tenho acompanhado os indicadores de procedência das visistas, mas imagino que ou venham do orkut (de paraquedas) ou alguns tenham adicionado aos favoritos e vindo ver com constância.

Aos visitantes, peço desculpas pelo longo tempo sem atualizar, e agradeço pelas visitas. De volta ao trabalho irei me esforçar para manter a freqüência de atualizações.

Mais tarde, se puder, postarei um blog sobre algumas coisas realmente importantes (isso aqui tá parecendo “aviso de boletim de igreja de crente”…